Esgrima
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I
Perdida em meio à névoa, a trilha
sob o desfiladeiro segue infinita
– um caminho sem respostas,
sem certezas, dentro ou fora.
II
Um tinir de ferros ressoa,
desperta uma chama em mim;
da escuridão uma resposta ecoa
de um sonho sepultado ali.
III
Treinando firme, dia a dia,
desprezando suor e cansaço
até que me torne qual dardo,
retesado, no arco da vida.
IV
Sonhos efêmeros vagalumeiam;
no punho a espada, meu lastro
- um universo contido de anseios
permeiam a frieza do aço.
V
A mão que treme, o pé que hesita
de nada serve o suor gasto
se minha mente, não mais minha
se rende prévia ao assalto.
VI
O corpo em rocha, a mente um lago
que, quer lute com mestre ou novato,
sob finta, a fundo, flecha ou salto
permanecerá sempre calmo.
VII
Meu corpo, em guarda;
meu espírito, em riste;
Todo o meu ser reside
no limiar do fio da espada.
VIII
Um olhar profundo, qual Lince
um ataque veloz e não dúbio;
Escarlate minha lâmina tinge
e lento escorre, em veio rubro.
IX
Dissipado o medo,
o horizonte me espera;
Ardente, somente um desejo:
o sumo ápice de toda a Terra.
X
A cada fugaz vitória e glória,
um presságio futuro de derrota;
Nesse palco, todo vulto dança e some
num bailar de pés errantes.
XI
Que é do amargo e doce?
- resquícios de uma mente vã;
As sombras que duelo hoje
já não serão as de amanhã.
XII
É, pois, viver lutar?
Dúvida em mim:
avançar ou recuar
– e com que fim?
XIII
O quê, de fato, importa?
A vida segue curta, frágil, torta.
Então adeus futuro, adeus memória,
só minha lâmina gravará minha história.
XIV
Um novo dia, novo assalto,
e as ilusões ao lado: o bem, o mal;
mas quando a ponta acerta o alvo
sinto um fugaz sopro do real...
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