Judas de Kariot
I
Quem é esse que anda
– sob um véu de sombra –
no umbral do existir?
[Treze chaves carrega ao cair]
A canção que canta,
seu sangrar alcança
o silêncio em mim;
[nas profundezas sem fim]
“Desperta-te”, clama,
o cuja voz é flama
o cujo arcano é dor
[as suas treze marcas de amor...]
II
Os tempos já idos
quão vãos e sofridos
aqueles sem amor
[quais dos antigos sentiu seu calor?]
Nos haréns dos palácios
nos quartos dos faunos
só carne, só dor
[que paixão nenhuma areia levou?]
Ó mestre dos ventres,
me faça semente
me faça sua flor
[que verás no Mayab, a dormir?]
III
Nicodemos, um mestre
só se ergue em serpente
quando entende o amor
[as águas do porvir...]
Sim, o qual que alcança
as santas planícies, assiste
ao funeral de si.
[da água e do fogo surgi...]
E duvida, e reflita
se o que aos outros engana
engana-te a ti.
[és um maya ainda?]
IV
Eis que o bem-amado do Cristo
no teatro, tem um papel a cumprir;
Deste pão molhado que sirvo
a Verdade poderá prosseguir...
As trevas caíram
e é o diabo quem fala;
“As luzes que partiram
são já pois mortas, fadadas”
As ilusões da morte
se multiplicam nas eras;
Do Filho o advir da Sorte
e Sua coroação na Terra.
Mas não, a vida não finda,
pois a morte é a vida
e a vida, o renascer
na eterna terra do Mayab...