Sob a lua vermelha de novembro...

Quando tudo isso começou? Quando as engrenagens do destino começaram a girar? Talvez seja impossível achar a resposta agora, profunda no fluir do tempo...

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Eu? Apenas mais um andante solitário...mas todos os andantes tem uma ou outra lição a passar devida à sua intimidade com a estrada. A estrada é sábia. Embora seja certo que o caminho ainda segue muito à frente... quantas lições nos esperam?

sexta-feira, maio 06, 2005

As três Jóias do Imperador

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As três jóias do Imperador


Existe uma lenda que conta o seguinte: há muito tempo, existia um imperador, que morava em um reino qualquer longínquo - cujo nome já foi esquecido - que decidira reunir junto de si as três virtudes que mais prezava: a inocência, a beleza e a sabedoria. Refletindo consigo, ponderou que deveria manter primeiro três pessoas com essas três qualidades marcantes consigo para que pudesse aprender também a desenvolvê-las.


Expediu, então, um decreto, ordenando que todos os rapazes do reino comparecessem, um certo dia, frente ao palácio. Dessa forma, realizou testes e testes com todos esses jovens, até conseguir aqueles nos quais considerou ter encontrado as três virtudes em estado de perfeição. O jovem que encarnava a inocência em si era um garoto de 16 anos, e seu nome era Kanin. O que encarnava a beleza, a graça, a suavidade, tinha 18 e se chamava Sonnes. O terceiro, que portava o dom da sabedoria, tinha o nome de Valyr e 20 anos.

Congratulou-os então, com três jóias. Ao que manifestava mais inocência, deu um diamante azul claro. Ao que manifestava mais beleza, deu um Rubi vermelho, e ao que manifestava sabedoria, deu uma safira de cor verde. Após essa realização, convidou-os para que morassem consigo em seu palácio e prometeu que os amaria tanto quanto amava as três virtudes que possuíam. Nenhum deles recusou.

Durante os próximos anos, o soberano sempre se alternava entre os três aposentos. No aposento de Kanin, desfrutava-lhe a inocência e a pureza. Às vezes conversava com ele muitos tópicos seguidos e importantes ao reino, para conseguir captar a opinião do coração do garoto. Seu quarto era principalmente simples e límpido, e a cor branca predominava. Durante muito tempo visitou com maior freqüência os aposentos de Kanin.

Ao quarto de Sonnes ele também ia muito, e desfrutava-lhe a beleza e a suavidade de ser sob os lençóis de sua cama, que era da mais fina seda. Tudo em seu quarto era belo e atrativo, e ele usava os mais finos produtos sobre seu corpo. Sua mesa era repleta de iguarias requintadas. Gostava muito de suas aventuras juntos, mas ia menos ao quarto dele que ao de Kanin.

Ao último aposento, de Valyr, também tinha gosto em visitar. Horas se passavam enquanto os dois discutiam filosofia mundana e espiritual, e quando já era tarde, dormiam um aos ombros do outro. Seu quarto era repleto de livros e de jogos variados. Dos três, porém, esse era o aposento que mais raramente visitava.

Eis as três jóias do imperador. E, por muito tempo ele desfrutou dessas três jóias a seu gosto. Nesse tempo, sua fama se espalhou desde as costas do continente até o outro lado do mundo, e pelos sete mares se sabia seu nome e sobre suas três maravilhosas jóias que possuía consigo. O Imperador possuía renome, e de toda parte do mundo chegavam peregrinos com o intuito de admirar os três querubins brilhantes do imperador. Seus negócios então prosperaram, e sua felicidade não conhecia limites.

Chegou, contudo, o dia, em que o soberano chegou ao quarto de Kanin, e viu suas mãos cheias de moedas de ouro. Viu que o ouro o deleitava: ele aprendera o valor do dinheiro. Não tardou para que Kanin perdesse a inocência e sua jóia ficasse cheia de máculas e de escuridão. Foi banido do palácio. O rei prometera amá-los à medida que amava suas virtudes. Kanin perdera sua virtude e, por conseqüência, seu amor.

Ainda, porém, restavam duas jóias, e dois aposentos. Então o Imperador novamente se deleitou e ficou contente. E continuavam vindo peregrinos de toda parte para admirar-lhe as duas jóias. Pelos sete mares, ele estava na boca de todos os marujos. Só se falava das duas maravilhosas jóias do imperador. E então passou a visitar os dois aposentos remanescentes com ardor ainda maior. Visitava, porém, bem mais o aposento de Sonnes e ia pouco ao de Valyr.

Pois chegou o dia em que Sonnes se tornou gordo e rugas tomaram de assalto sua face sem que se pudesse mais escondê-las. A jóia vermelha ficou menor e menor, até que sumiu por completo. Sonnes foi banido então do palácio. Mais uma jóia havia se perdido.

Restara somente uma jóia, uma única das três maravilhosas jóias que possuía o imperador. E o imperador estava triste. Passou, porém, a visitar freqüentemente os aposentos de Valyr. Uma vez, porém, abraçado junto a ele, na cama, lamentou em voz alta:

“Perdi duas das jóias mais preciosas que jamais encontrei. Tive felicidade com elas por duas vezes, e por duas vezes me entristeci com a sua perda irremediável. O que me resta agora, senão perder a última raridade? Quando perderei minha próxima jóia?”

Valyr, porém, não estava dormindo; chegou-lhe aos ouvidos e lhe disse:

“Nunca perderás essa última jóia, meu senhor, agora que já a encontrou. A não ser, evidentemente, por vontade própria. A jóia da sabedoria não se macula com o ouro, tampouco perde seu viço com o tempo. Ao contrário, fica cada vez mais polida e cada vez mais brilhante. Aqueles que cuidam dessa jóia podem torná-la um verdadeiro farol, de modo que outros também a vejam e sigam para fora da escuridão.”

O imperador então olhou para sua última jóia, e de repente soube que tudo isso era verdade. A jóia brilhava mais do que todas as outras, e crescera com o passar dos anos.
Porém isso não amenizava sua tristeza. De fato, ficava mais e mais triste. Só que sua tristeza agora havia se elevado. Era a melancolia do conhecimento das dores da vida. Ele nunca havia pensado em tal fato antes. Talvez a luz da jóia verde estivesse o guiando, também, para fora da escuridão.

“Nunca mais voltarei a rever minhas jóias. Porque uma me bastaria, quando já tive três?”

Ao que Valyr retrucou:

“Uma já o bastará, pois agora tem o tamanho das três juntas, e portanto lhe trará a mesma felicidade que as duas outras lhe trouxeram.”

O rei então lamentou, em agonia:

“Por que, porque perdi minhas duas jóias? Ninguém mais as admirará, e os peregrinos se afastarão do meu palácio, assim como meu nome será esquecido nos sete mares.”

Valyr não se intimidou.

“Novas jóias nascem, e outras devem perecer para que elas cresçam e reluzam, e tornem a perecer. Conhecer esses ciclos inevitáveis da vida é conhecer o mundo e conhecer a si mesmo. E isso lhe traz mais felicidade, e essa felicidade não é perene, pois se sustenta sobre a perenidade. Os feitos das duas primeiras jóias serão esquecidos pelo povo em pouco tempo, mas os feitos e a fama de sua terceira jóia será recordada por séculos e séculos, mesmo após a morte de muitos e muitos homens e o final de muitos ciclos, porque não está no mesmo nível que eles, mas sim sobre suas colunas.”

O soberano então se calou; e, olhando nos olhos do amado, soube que era verdade.
Enfim ele se ergueu, e seus olhos levavam um brilho estranho, verde, que nunca mais deles se separaram.

Até hoje esse rei é lembrado pelo seu povo. Não pelas suas duas primeiras jóias, mas pelos feitos da terceira, que foram magnânimos. O triplo de peregrinos naquela época passou a visitar o palácio para admirar a mais bela jóia do Imperador, a única que tinha o dom de vencer o tempo.

Conta-se que o rei e sua jóia morreram avançados em idade, e foram enterrados lado a lado. Muitos daqueles que visitavam seu túmulo, em dias posteriores, afirmaram que uma névoa esverdeada cobria seu repouso derradeiro. Uma prova que, nem na morte, a jóia pudera ter seu brilho apagado. Prova que nem a morte apagou a última, a mais perfeita das jóias do Imperador...


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(Autor: Bruno Neves Oliveira)

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bruninho,

maravilhoso conto, tudo a ver e traz um monte de coisa pra se pensar...
muito criativo e muito boas idéias...
isso me lembra sempre que, no amor, não há nada mais importante que a amizade, pois essa nada pode apagar...e mais...
sei que quer dizer muito mais seu conto...
bj, miguinho,
parabéns.

9:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

ah, tá...o post foi meu Helena.

9:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

oi priminho qerido!!
ai q saudade d vcs dai d long.....
primo, vc escreve kda coisa linda sabia! olha, vc tem futuro viu....
continue assim, mtos bjos da sua priminha
lali

10:25 PM  

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